domingo, 26 de dezembro de 2010

D. Nuno de Noronha e os primeiros recreios episcopais de Castelo Branco I

Vista de Castelo Branco, da banda do Norte. Duarte de Armas, início do sec.XVI. No canto inferior direito percebe-se a zona de produção agrícola onde alguns anos mais tarde D. Nuno de Noronha manda fazer o seu paço.


Sendo certo que quando hoje falamos em Jardim do Paço aludimos à obra mandada fazer por D. João de Mendoça, em 1715, a verdade é que foi um outro bispo da Guarda aquele que primeiramente fundou na vila Castelo Branco uns recreios episcopais. Com efeito, D. Nuno de Noronha, filho de D. Sancho de Noronha, conde de Odemira, bispo que foi de Viseu, sendo-o da Guarda, mandou fazer, em 1596, umas casas e  paços episcopais, e os circundou de várias propriedades, que eram hortas, vinhas e olivais, que tudo reduziu a melhor estado.
A vila de Castelo Branco, enquanto não foi elevada a cidade e promovida à categoria de sede de Bispado, o que ocorre em 1771, esteve sob a jurisdição eclesiástica do Bispado da Guarda e na dependência administrativa da Ordem do Templo, da Ordem de Cristo depois e sucessivamente da Casa do Infantado.
Mas foi com a ordem do templo que, em 1242, o bispo da Guarda celebrou, na cidade do Porto, uma amigável composição que, para além de estipular os tributos e privilégios da mitra em Castelo Branco, designadamente a colheita e o jantar, e ainda a quarta parte dos dízimos recolhidos pelos senhores da vila, consagrou o compromisso de serem dadas aos bispos umas suficientes e honradas casas, para agasalho seu e dos seus e para recolhimento das suas procurações e novidades. É de crer que essas casas se situassem aonde hoje chamam o Arco do Bispo, nas imediações dos antigos paços do concelho. Ali existe ainda hoje um edifício que revela alguma nobreza, não obstante algumas intervenções que o diminuiram e, apesar de não existem documentos que o relacionem com a mitra, a toponímia pode concorrer para o estabelecimento de possíveis ligações entre esta casa e o bispado.
Fosse como fosse, quando D. Nuno de Noronha quis fazer para si um novo paço em Castelo Branco, procurou para isso uma nova espacialidade, longe da circunscrição  imposta pelo casario da vila, muros adentro.
O local escolhido para o efeito, ainda que fora das muralhas da vila, não se afastou muito da sua protecção, pois quase partia com as mesmas.Tratava-se de uma zona de produção agrícola, dotada de abundantes  recursos hídricos e que se prestava, por isso, ao projecto que o prelado idealizara. O gosto pela vida ao ar livre começava a produzir os seus efeitos e são inúmeros os exemplos de palácios de nobres  e eclesiásticos que nesta altura se edificam fora dos cascos urbanos das povoações.

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